Minha essência mudou sua essência
E ao mudá-la, mudei a minha também
Sua essência deixou-se mudar
E mudamos ambos um pouco
Abafei sua vida
E ao abafá-la, matei a minha também
E morri um pouco mais
Um pouco mais além de mim.
E continuamos ambos mudados,
abafados, sufocados
Juntar pedaços é possível? Dá tempo?
Ou temos que nos reconstruir,
nos isolar, sofrer e partir
Para nos encontrar e de novo amar? "Caminhando" Ando pelo mundo
qual ciclone desvairado
sem encontrar guarida
e em meio a redemoinhos
tento incríveis movimentos
de subidas e íngremes descidas
Ando pelo vale
a descascar feridas
de tombos incontáveis
incontroláveis corridas
desabalados sonhos
e indesejáveis chuvas
Ando embaixo de árvores
a procurar o canto
do pássaro fugido
a inventar o lamento
a destruir verdades
entranhadas no vento.
Ando por estradas tortas
Entre folhas mortas
Densidades lentas
E perco definitivamente
O sentido da vida, brando,
branco de poeira infinda. "Absinto" Como é difícil
deixar-te
mesmo decisão tomada,
quando tuas mãos tateiam-me...
torturando a pele ferida...
Como é difícil deixar-te
quando você me toma
em goles pequenos
sorvendo-me a essência
Como é difícil deixar-te
quando teus lábios me ferem
destilando o veneno
adocicado e morno...
Como é difícil deixar-te
mesmo sabendo que
caminho para o abismo,
quando você é
meu pedaço mais precioso...
Ando entre nuvens baças
a descobrir carcaças
a remoer os ossos
de grisalhos momentos
a entalhar um mundo
inteiramente obtuso
Ando por entre espinhos
A debochar da vida
E me quebrar inteiro
Resta juntar pedaços