Teatro
Quase não cabia em si
o desejo de beijar-lhe
a boca.
Abriu a porta do automóvel
e ficou ali,
impassível,
na poltrona.
As coxas abertas
na calça apertada, delineando,
explicitamente,
as formas protuberantes,
convidavam-no os braços,
o nariz, a boca, o sexo:
graça de anjo
enleado em sono,
derramado no banco da praça.
Seu momento de verdade
transformou-se
ao pressentir os escolares.
Retomou o ar de estátua
e pôs-se, novamente, a carregar
seu fardo.
Agora, era a dor
da postura, do paletó,
de ser pai, do ofício de juiz,
patrono da morte,
o recurso para sua personagem.
Pedro Nicácio
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