Mestre Quinco, sapateiro,
embora não passe bem,
vai vivendo, vai furando...
Sem ser pesado a ninguém.
Trabalha nos dias úteis,
à noite ainda faz serão,
batendo e lambendo sola
para reforçar o pão.
A mulher, dona Chiquinha,
vive num trabalho insano...
Costura, lava, cozinha,
e dá um filho por ano.
Aos domingos, Mestre Quinco
cai no vício... — Maré cheia! —
Bebe até rolar, borracho,
na sarjeta ou na cadeia.
Quer bem aos filhos, mais nada...
Não pede a Deus, não invoca...
— Sonho, é conversa fiada!
Felicidade, é potoca!
Se o mundo vira ou revira,
Mestre Quinco ágil se dobra...
— Vida pobre, ele afirma,
é pau-para-toda-obra!
E vai furando...
Vivendo...
Batendo sola, solando...
Lambendo sola, lambendo...
Sempre a mulher consertando
a roupa que vai rompendo...
Sempre a mulher linhavando
sua existência poída...
Trabalhando como um mouro
para ter casa e comida...
Pensando em legar aos filhos
moral rota, mas cerzida:
um rolo e quatro processos
— cinco remendos na Vida!