Vim do mato, vim de longe,
vim do verde que é verde,
verde-claro, verde-escuro,
verde-lima do canavial.
Vim de onde o céu aberto
derrama estrelas no chão;
onde a lua sem respeito
desnuda indecente clarão.
Vim por uma estrada grande
que despejava riqueza.
De um lado explodiam vacas!
De outro, cana. Beleza!
Mandioca, carne e porco,
laranja, galinha, goiaba;
peixe de rio em abundância,
quiabo seco, sem baba.
Cheguei na cidade, o asfalto,
concreto, poste de luz.
Não pensei que houvesse chuva.
Moça, menino seduz.
A noite pensei que era escura
mesmo que estivesse nua,
mas quando olhei pra distante
vi muita gente na rua.
Arregalei grandes olhos
e vi que tudo brilhava
num banho prata insistente
surpreso, me embasbacava.
Dei uma olhada de novo
pra cima, pro alto, pro além
sem querer, gritei pra todos:
— E aqui tem lua também?