por quantas vidas foste vida assim tão bela?
por quantas eras te moldaste assim alegremente fera?
por quantas luas te voltaste para ela assim tão séria
e marcaste tua pele inteira com esta cor-pantera?
em quantas civilizações perdidas foste venerada deusa
e quantos reinos de marfim, opalescentes, perfumaste
com tuas essências de sândalo, almíscar e patchuli?
sim, que toda essa graça não se tem assim
só de ver, ouvir dizer e ser em uma vida só
que o mais que em ti existe não se deixa ver: queixa
de mortal que nunca chega a ter.
e aonde vais, não passas — deixas marcas tão profundas
que nem toda a areia do Gobi pode encobrir
farol de olhos (que brilhar estranho!),
nave que vai sangrando o mar de Aral
dizendo cedo que chegamos tarde ao cais.