Ver me apraz, muita vez um papagaio
Ao fio preso, lindo,
Ir, encarnado, ou roxo, ou verde-gaio,
Remontando, subindo,
Trazendo repuxada a cauda extensa
E tremulante, gala
O espaço, senhoril, numa vaidade imensa,
Como em áureos salões um porte
de fidalga!
Às vezes cabeceia e se agita e se anima
Em recurvado, belo movimento,
Para a direita, a esquerda; ora abaixo, ou acima,
Ressaltando no azul do firmamento
Como uma inquieta borboleta!
Outras vezes, serena, e majestoso,
Como um esquisitíssimo cometa,
Paira no seio gélido e plumoso
De uma nuvem de arminho...
Vê-se muito o aflige
Não poder pelo céu abrir caminho,
Pois um fio o dirige,
Ligado à mão travessa
De buliçosa criança,
Que, com muito capricho na cabeça,
De sujeitá-lo não se cansa...
O papagaio, então, tenta
fugir, e, às soltas,
Livre do fio, voar pelo vento
levado...
"— Doido, se o quebras tu, de novo à terra voltas,
Inerte, aniquilado;
Que o fio que te prende e te acorrenta,
Obrigando-te a andar ou tolhendo-te o passo,
É a força que te sustenta
No espaço..."