Quando tu chegas tão de repente
Nada querendo, querendo tudo
Calada eu grito: lindo, tesudo!
Inundas de calor a minh'alma
Tremendo-me a mão, adeus à calma
Tornando-me ébria, demente, cadela,
Fazendo-me gulosa, maluca, insana
Na loucura dolorosa, frenética, profana...
Em face a isso tudo eu me espanto
Quando por ti me vejo desnudada
Estou calada, mas eu grito, muda
Alma e corpo, corpo e mente, mente e mão
Retiram os tênues véus da razão...
Algo em mim cresce, avoluma-se e arde
Penso — Meu Deus — já é tão tarde!
A porta trancada e o botão entreaberto
De fina água recoberto...
Nesse ritual tão inconstante
Proclamo na doidice ali presente
Prazer e volúpia soberanos do instante...
Deixo-me beijar e também te beijo
Que melhor seria se assim não fosse?
A cada respingo de água salgada
Sentido-me por ti tão machucada
Do amargo prazer do desejo doce...
Nossos corpos tornam-se pequenos
Procuras o ninho nos meus pêlos
Devoras- me e te sorrio toda
Instinto selvagem, animal, natural...
Somos um, ali, grudados
Gemidos, nos sussurros, balanço
Avanço do vaivém frenético
Agarram-se, arranham-se, entranham-se
Instante único, nosso, majestoso
Acordo, abro os olhos, tão real
Ao meu lado, adormeces, satisfeito
Cansada, encosto-me no teu peito
Tudo lá fora se cala, tão normal...
Aqui dentro refazemo-nos
Para um novo ritual....
CANÇÃO DO SILÊNCIO - II
Quando tu chegas, assim, de mim bem perto
Calado, nada querendo, mas querendo tudo
Aconchego-me em teus braços, nem sei ao certo
Se tu falas mesmo ou se estás mudo.
E ficamos, unidos, em nosso canto
Horas primeiras da madrugada amiga
Os sussurros gritam e eclodem prantos
De prazeres tantos de águas concebidas.
E o mel flui e o leite se derrama
Energia se instala em nossos plexos
Calados, debatemo-nos em nossa luta
Alimentando vorazmente nossos sexos.
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Espiando este quadro que se inflama
Somente a lua no silêncio, à escuta....