Os poetas, quase todos, têm similares os seus rostos;
Há algo comum em seu jeito, olhar,
Caneta e papel a postos!...
Dir-se-ia, vulgarmente,
Que os poetas têm a mesma “cara”:
Taciturnos, alguns deles, maxilares salientes,
Mário de Andrade, Dante Milano,
Drummond e outros escreventes, circunspectos, displicentes,
Pés na Terra, mente em Urano...
Os poetas, em sua maioria,
São crianças rebeldes que não cresceram!
Debateram-se, do sistemático à revelia...
E ao abismo do real sobreviveram!
Poetas são flores, poetas são casas,
São sonhos, amores, quartos e salas!
São absurdos e desvarios,
Embelecendo silêncios e falas!...
Poetas são cirurgiões da Estilística que,
Com o bisturi da imaginação,
Retiram e põem aqui e ali...
... Para sobrar ao coração!
O poeta opera o cérebro
E (que coisa!) encontra indícios de emoção,
Paixonites, milhões de “ites”,
Canalizadas à tal Razão!
Ser poeta é ser escriba,
Prólogo e epílogo, fim e recomeço;
É ser livro ou pergaminho,
Sem precedentes ou endereço!...
É ser maratonista e viandante,
Cruzar rapidinho os sete mares!
É ser boêmio ou ensimesmado
Em porões ou tavernas-bares...
Ser poeta é registrar, em signos,
Opulências de intenção, abundância de fitos!
É cometer em sincronia
Proezas, caridades e delitos!
O poeta enaltece o mero
E ameniza os horrores!...
Pelas letras, fazem-se sábios
Ou ainda menos conhecedores...
Em contradições e incoerências,
Costumam confundir-se em sua “logia”...
... Afinal, ser poeta é ter um mundo
E rebuscá-lo a cada dia!!!...
O poeta é um socrático, por natureza,
É o filósofo, por excelência:
Aquele que vislumbra a beleza
Que inexiste em evidência!...
E rebusca os mares, rebusca os rios,
Rebusca as buscas em seus desvarios...
E mergulha nas almas, penetra seus claustros,
Navega oceanos sem navios!...
O poeta tem um jeito estranho
De encarar seres e vidas,
Pois tem na alma expressões
Em toda a expressão incontidas!...
O poeta não intenta: persiste;
Não procura: divaga...
Artista, mago, equilibrista,
Esgrima sem adaga!
Indaga Shakespeare: “SER OU NÃO SER?”
O poeta sabe responder...
Pois, sem mesmo poder,
Inexiste e existe em vão saber!
O poeta é um discípulo de Freud, em seus tratados:
Vê as gentes, todas, em subterrâneos ou tablados!
Estuda atos e pensamentos alados,
Homens e mulheres ininteligíveis!
Galga desérticas estâncias,
Habita espaços longes, intangíveis!...
O poeta é artesão
Que tece os fios da arte primária:
Aquela que aflora à emoção
E faz grande uma existência sumária!
É o vate operário do relevo celulósico
E das letras escriturário!
O poeta tem todos os ofícios:
A totalidade é seu sumário!
O poeta é um mago da criação:
O Criador tocou em suas mãos!!!..