Sempre era noite,
Nunca era dia,
Na casa branca de Maria...
Com seus olhinhos enrugados,
Ela me fitava e sorria...
Sorria à menina dos cachos louros,
Loureza que ao sol refulgia!
Maria guardava o seu choro
Secretamente e sorria...
Na casa junto à calçada,
Ante a janela cosia...
Suas emoções então costurava
Com a linha de sua agonia!
Maria setenta e sete anos contava,
A menina se admirava e inquiria:
Quando tinha a sua idade,
Como Maria sorria?
Maria fora apaixonada
Pelo Capitão da Infantaria:
Aí então Maria chorara,
Pois seu amado não a queria...
Manoel, o capitão desalmado,
Casara-se com a amiga Luzia...
De cinco décadas a história passava
E, ainda assim, Maria sofria...
Sempre era noite,
Nunca era dia,
Na casa branca de Maria...
Com seus olhinhos enrugados,
Ela me fitava e sorria...
Sorria à menina dos cachos louros,
Loureza que ao sol refulgia!
Maria guardava o seu choro
Secretamente e sorria...
Maria envelhecera chorando,
Mas à menina, serena, sorria...
O sofrimento trouxera a solidão
Somente para a sua companhia!...
Até hoje a menina ainda guarda
A lembrança doce de Maria,
Que deste mundo se retirara
Sob o véu da melancolia!
Adeus, adeus, adeus!
Adeus, ó doce Maria!
A vida lega sonhos aos seus
E estes se viram em agonia!
Sempre era noite,
Nunca era dia,
Na casa branca de Maria...
Com seus olhinhos enrugados
Ela me fitava e sorria...