dormir agora
seria
muito perigoso
não sei se escorro
descorro
ou corro
pelas palavras
desmolhadas
desvulvadas
das bocas
que você inventa
que arrepiam
e explodem
os tímpanos
da minha glande
tenho medo
do que posso deixar
de ouvir
se sonhar
descuidado
por um sono
traiçoeiro
a me desgarrar
das suas
palavras-entranhas
tenho medo
de continuar a escutá-las
dormindo
e acordar
sem a noção
do que seja tempo
do que seja suor
do que seja mijo
continue
falando
este dialeto
barulhos
de pele e silêncio e espera e vagina
que
vão esfaqueando
meus músculos
rígidos
e quanto mais
perco
sêmen e sangue
suga
de meu cérebro
engessado
gritos indecifráveis
que traduzem
seu desejo
não páre
não descanse
entre uma respiração e outra
perpetue-me
taquicárdico
mas se um suspiro
for urgente
e inadiável
deixe-me morrer
aos poucos
inexplicável e feliz
nos hiatos deste gozo
dormir, jamais!