Esta ansiedade, vou pernoita-la
em Cabul. Onde? No espanto
da bruma
no ovo da tartaruga do Nilo.
Aqui, não vale nada minha fome de azul,
estou perdido. Deveria então emigrar para o Leste
morrer de peste ou de enfarte do miocárdio
em Tebas, Lurdes ou Cairo?
Está decidido. Vou para Cabul,
cidade dos meus achados
terciários, trabalhada por alguém que antecipou
meu pensamento.
Levo o estrito – sem demasias
viajo:
olhos sujos, amargo na boca,
mais cinco ou seis amaritudes centenárias
e nenhuma virtude que por fora se veja.
Na mala, fechada,
uma ode para dizer ao pé do ouvido
da primeira sombra velada
— uma gota, em Cabul, uma gota, só,
do mar.
Do livro: "Poesia Moderna", Edições Melhoramentos, 1967, SP