Das mãos do Senhor erguiam-se labaredas,
dos pés do Senhor, erguiam-se labaredas,
dos flancos do Senhor erguiam-se labaredas
de dor...
O corpo divino se estorcia como um tronco verde na queimada .
O incêndio de dor crepitava violento
em toda a carne do Senhor.
E as mãos que tinham abençoado infinitamente
eram agora folhas crestadas,
e os pés que tinham sagrado os caminhos do mundo
eram rebentos retorcidos,
e a cabeça que abrigava os pensamentos eternos
era uma fronde que ia tombar reboando.
O incêndio de dor crepitava violento
na alma e na carne do Senhor.
E as chagas eram brasas vivas
e as palavras que brotavam trêmulas
dos lábios que haviam pronunciado as verdades divinas
eram outras chamas, mais altas e puras,
de dor infinita.
O incêndio de dor crepitava violento
e enchia do seu rumor imenso
a grande noite
do mundo...
Do livro: "Poesia Moderna", Edições Melhoramentos, 1967, SP