Se a vida na verdade é remissão,
Nossos ais não são gritos se evolando;
A dor é justa herança, transmissão
Do nosso próprio sangue miserando.
Se eu sou como um remorso, carregando
Os erros de meus pais, que nada são,
E se sofrendo a minha mágoa é quando
Remi-los vou da eterna maldição;
Eu que não tenho filhos, redimida
Não terei minha carne, noutra vida
Hei de sofrer a pena mais formal,
Porém num maternal desprendimento,
Bendirei, ante o mundo que lamento,
Não ter legado aos meus tamanho mal!
Do livro: “Garoa da Madrugada”, Ed. autora, 1949, RJ