Enterremos os mortos
e sobretudo este
a catar alfinetes
sob a terra e os viventes.
Sua sina foi esta
e deve ser lavrada:
catar apenas nada.
Talvez o epitáfio
seja: não existia.
Inexistir no entanto
é uma forma de pranto;
mas este não chorava
nem ampouco tugia.
Tabelião de nadas,
ao nada será dado.
Amigos não os teve
por ser pesado encargo.
Nascem dálias do nada
num nada registrado.
Sua vida não pesava
nenhum quilo de nada.
Foi? Não foi? Quem saberia
se é infinito o dia?
Não há salto, nem saldo
a quem nada fazia.
Se amigos não os teve,
há de os ter a contento.
Enterremos os mortos
e sobretudo este.
Cubramos os eventos,
os perdidos e achados
com a pá do esquecimento.