Lapso
Onde estarão tuas luas,
eufóricas,
impregnadas de marés andarilhas?
Onde os teus murmúrios contemplativos,
tuas veias aquecidas pelos vapores
das estrelas elétricas e
despudoradas?
Em que reinos ficam agora
os palácios da tua morada branca,
as janelas abertas
dos teus entusiasmos meteóricos,
sempre insuficientes ao insaciável
do teu desejo?
Onde as festas e
o contentamento
da tua criança rebelde,
inconstante,
habitante do planeta ouro,
viajante dos mergulhos rasantes?
Para onde olharão teus olhos vitrines
regados de céu,
olhos de noites que se recusam
a escurecer?
(teus olhos lagos
de manhãs úmidas,
teus olhos firmes
de fogo ardente,
teus olhos sorrisos
de leitos espumantes)
Em que porto o barco ancora
os sopros dos teus anseios
violetas?
quem assiste agora tua teimosia
por primaveras?
Em que oratórios estão pousadas
as preces das tuas mãos gentis?
em que barros elas buscam
as essências dos invisíveis,
as esculturas dos inícios,
que desenterramos dos porões?
(tuas mãos almas
tuas mãos harpas
tuas mãos nuas
viagens minhas)
Por uma fração de segundos
caiu pesadamente em mim
a ignorância das impressões,
espécie de alucinação,
pesadelos talvez.
vi raízes expostas, arrancadas,
tempo prematuro e acelerado
evaporando levianamente
a harmonia da nossa fragrância.
Tu estás aqui ainda
eu sei,
livre e intimamente
com o todo teu
colado no todo
meu
Tu permaneces
eu sei,
banhando os pés
nos infinitos rios
dos meus movimentos
mariposas.
varrendo essas ridículas
poeiras que corrompem
a paisagem do original
Tu estás comigo
eu sei,
ignorando todas as leis impingidas
pelas histórias foscas,
inúteis cacos de vidro
espetados por dentro
dos nossos gozos.
Tu ficas
eu sei.
peço perdão
pelo tempo desse poema,
foi apenas por um lapso,
por um breve instante,
que ele se levantou.
foi apenas pela confusão da mente,
que por vezes,
sem medir conseqüências,
me ataca em dentes.
foi a saudade que
repentinamente me colheu.
Ah essa indiscreta e infiel saudade
a me distrair!
é,
foi ela,
foi a saudade,
que trouxe a nítida impressão
que eu havia acordado.
«
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