(primeiro ato)
hoje ultrapasso
as mordaças do silêncio
e revelo ao mundo
o teatro das farsas
encosto no paredão
as vergonhas
os dogmas, as fantasias
as porradas, as ofensas
o cheiro fétido
das mentiras plastificadas
Hoje denuncio
as indecências dos mendigos
que dormiram esparramados
por cima do meu sonho
encosto no paredão
todos os instantes furtados
chamo Nossa Senhora da Raivas
e de mãos dadas com ela
aperto os gatilhos dos fuzis
que espetam minha garganta
piso nas poças de sangue
nas coaguladas e
químicas sombras
(segundo ato)
Hoje sepulto
em toneladas de cordilheiras
os restos mortais dos infiéis
que falsificaram o néctar
que entrevaram os gestos
que envenenaram as intenções
que inventaram interpretações
e teceram enredos de aranhas
Hoje enraiveço
do Speakers Corner
até a Cinelândia
e sou santa
assassina justa
pelotão de direitos
dores nas mãos
catarses nos gritos
(último ato )
Hoje conscientizo
e lavo de branco
a lama desse palco
cuspo na cara dos atores
arranco da história
as personagens de laboratórios
tranco em jaulas seguras
suas falas decoradas
escondidas
em mangas ilegais
recebo aplausos
de anjos nus
durmo em nuvens
canonizada