ao regar o teu jardim
não imagines a futuro da flor
não há depois para ela
há o teu gesto fértil
e a atitude da água
que brota da tua mão
e isso é o suficiente
tudo o mais são conjecturas
o rio precisa passar
livre em sua essência
o movimento deve ser ilimitado
no transbordar do acaso
não advinhes o depois do teu jardim
ele evapora a sapiência do imprevisto
ele é por si
e cumpre o seu agora
não temas
esvazia-te
aceita o espaço do nada
confia
e permite que o jardim
revele o súbito das pétalas
abandona na terra mãe
tuas buscas ansiosas
tua pressa diante da semente
solta-te
a flor sabe o tempo certo
de perfumar