o poema meu
range nas minhas raízes
escorrega pelas minhas vísceras
amanhece luas nos meus dias
anoitece luz nos meus sonhos
e desobedece a sincronia de qualquer estrofe
o poema que sou em mim
não tem como ser declamado
ele não teria nexo
em contato com a atmosfera
seria um barco afundado
um colar sem pérolas
um toque sem tato
o poeta que sou
jamais é
fora de mim
por isso tudo que escrevo é mentira
tudo que canto é desafinado
tudo que digo é duvidoso
e tudo que traduzo é impreciso
é apenas dentro de mim
que o poema treme verdades
é só comigo que ele compartilha
a sensação acentuada de tanto
é apenas a mim que ele empresta
o entornado das suas transcendências
é dentro
muito dentro de mim
que vive o poema meu
o que passeia nas confissões dos astros
e faz com que as estrelas
respirem deus na minha mão
é o poema intenso de eterno
é o único que não mente
e que se deita como alma íntima
na tonalidade exata do meu azul