ELEGIA A MANAUS:
Manaus, das grandes naus,
imenso mar de água doce
único, majestoso, existente no planeta
águas brancas, escuras águas
intensas, que a vista não alcança
mormaço, calor, chuva tropical,
a esperança de renovação da terra
seca ou inundada.
Manaus, dos igarapés que mais parecem rios
dos igapós gulosos, vicinais
engolindo as raízes das árvores ancestrais.
Das araras multicores
dos pássaros tantos, cantadores
tucanos imensos, parados
como num eterno quadro - natureza
explodindo no orgasmo da beleza.
Manaus, do povo simples, não mendigo
do sorriso humilde, do índio,
da gente -esperança , criança ,
cabelos lisos, olhos puxados
do caboclo triste, usurpado ,
pelo homem branco vencedor.
Manaus, dos peixes saborosos,
da carne branca e fresca doada
na terra santa, abençoada,
das frutas doces como o mel .
Manaus, cidade velha e menina
não cresças não, será tua ruína.
Não deixes que tua virgindade se extinga
nas mãos dos poucos poderosos
sem ética nem escrúpulos.
Manaus, maná, pão dos deuses
eu me reverencio em teu altar sublime
tua natureza toda me redime ,
por mais palavras que use a te cantar
sempre me postarei humilde, ajoelhada
em posição de prece, a orar...
Manaus, das velhas seringueiras
do ciclo nervoso do látex poderoso
parte do pulmão do mundo inteiro
que suga , no silêncio, em plena caridade
os miasmas todos dessa negra humanidade.
Manaus, te deixo agora
a Brasília eu regresso
ao Plano Alto e Central pelo homem tombada
[pelas mãos de ilustres historiadores]
mas hei de pensar em ti como antigos amores
e orar para que suas árvores majestosas
não sejam também tombadas
no sentido cruel e desumano da palavra.
Eu te amo, Manaus, até breve!
que minha estada longe de ti seja leve.
«
Voltar