Poeta estéril como os natais de agora
ergo meus braços à caridade do álcool
e quebro um verso a mastigar castanhas.
Enche-me o coração de amor e amo ao próximo
como amo a balconista da loja onde compro natais:
com ela esqueço o troco
esmola espírito de um natal sem Deus.
Sou sugerido a amar meus filhos
dou-lhes presentes como sendo amor
compro mentiras no balcão da loja
Cristo nasceu exposto na vitrine.
Mais tarde, noite alta
sem que os pastores vibrem
às melodias do nascer de Cristo
luzes, estrondos, alarido
Cristo nasceu no copo de champanhe.
E eu sou pastor no meu silêncio
a riscar na relva asfalto com meu cajado de luz
um verso estranho que não soa bem.
É um verso simples, verso de natal
que se apaga à passagem do primeiro bêbado.