Poema para Medgar Evers
(líder negro dos EUA assassinado à bala
quando entrava à noite em sua casa)
1
Sound
Our
Soul
— bell
Sound
Our
Soul
— bell
Em algum ponto do mundo é noite
e um homem negro tomba morto.
KU
KLUX
KLAN
— Alabama.
KU
KLUX
KLAN
— Aleluia.
2
Negra
noite
oculta
a fala.
Negro
corpo
oculta
a bala
Negro
fôrro
é negro
morto.
KU
KLUX
KLAN
— Alabama.
KU
KLUX
KLAN
— Aleluia.
3
O Senhor é meu pastor
HALLELUIA! HALLELUIA!
Mas um lobo me atacou
HALLELUIA! HALLELUIA!
No vale da escura noite
HALLELUIA! HALLELUIA!
Meu corpo se amortalhou
HALLELUIA! HALLELUIA!
Sôbre as taças do inimigo
HALLELUIA! HALLELUIA!
O meu sangue transbordou
HALLELUIA! HALLELUIA!
O Senhor é meu pastor
HALLELUIA! HALLELUIA!
Mas um branco me matou
HALLELUIA! HALLELUIA!
KU
KLUX
KLAN
- Aleluia.
KU
KLUX
KLAN
— Alabama.
4
No Alabama
é onde o homem é menos homem,
é onde o homem quando é branco
— é lobo e homem
e o homem quando é negro
— é lobo e lama.
No Alabama
um homem quando é negro
sabe que seu sangue porque é negro
— é drama
e cedo ou tarde pelas pedras
— se derrama.
No Alabama
é onde o homem é menos homem.
Dali é que nos chega
o sangue inscrito em telegrama.
Dali é que nos chega
um nome que era negro e escuro
e que agora se transfunde em pura chama.
KU
KLUX
KLAN
— Aleluia.
KU
KLUX
KLAN
— Alabama.
Affonso Romano de Sant'Anna
Do livro: Poesia Viva I, Civilização
Brasileira, 1968, RJ
Envio: Leninha
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