MÚSICA SACRA

Teu sorriso recorda um jardim de convento,
numa tarde outonal, melancólica e fria;
a última luz morreu no olhar do firmamento;
as flores têm, na boca, um sorrir de agonia;

Choram, entre o arvoredo, os violinos do vento,
sobre a morte do sol, a estranha sinfonia
que alma alguma sonhou com tanto sentimento,
e a que artista nenhum deu maior nostalgia.

Tudo tem a expressão de olhos de moribundo...
E o vulto do convento ergue-se, longe, ao fundo,
numa lânguida paz, religiosa e divina.

De uma janela aberta um anjo se debruça,
e, pelos lábios seus, a alma inteira soluça
de Beethoven, de Bach e Pietro Palestrina...

                                                            Alceu Wamosy

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