TAPETE PERSA

... e se emaranha
um fio em outro
e em outras cores
a cor avança
e pára e deixa
o esboço ou o ovo
de uma figura
que de si mesma
nasce e enrodilha-se
e volta em busca
do seu reflexo
ou sombra ou forma
definitiva
e como que
não a antevendo
segue e prossegue
e de si mesma
se perde e pára
e encontra e encontra-se
e é já o grito
de um medalhão
em pleno centro
de um mundo em flores
que se inaugura
e insatisfei-
to de si mesmo
segue e persegue
as trilhas lógicas
da geometria
e deixa rastos
de aranha ilógica
nas curvas com
seus dons de dúvidas
e de imprevistos
e nas preclaras
tramas de retas
e semi-retas
seguindo sempre
por infinito e
multiplicável
ou divisível
céu de arabescos
num sempre dar-se
sem nunca dar-se
por acabado
e vai e avança
a cor sobre outras
cores e um fio
vai contra um outro
e se emaranha...

                         Afonso Felix de Sousa

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