A FRAUTA DE BARRO

De um pouco de barro alguém
fez uma frauta.
pronta, no chão esqueceu-a,
barro no barro.
Alguém, depois, recolhendo-a,
soprou na frauta.
E a frauta cantava! — Canto:
o sobro: o barro?

CERÂMICA

Montículo de argila,
de híspidos pêlos vegetais tufado.
Rude, entretanto modelado.
Um subterrâneo orvalho
mina-lhe à superf[icie, fontanando-a.
Tênue gêiser, solfatara.
Brilha nos olhos minerais um frio.
E move-se, mágica cerâmica!
e se ergue, semovente
barro cozido ao sol!

                         Anderson Braga Horta

Do livro: "Fragmentos da Paixão", Massao Ohno Editor, 2000, SP

« Voltar