QUANDO CHORAM AS VIOLAS...

Ao abrir da madrugada,
O noivado da florada,
                     No sertão,
Torna a paisagem tão linda,
Que outra igual não houve ainda
De tão clara sedução.

Paulistanismo! Dir-se-ia
Ver-se o luar durante o dia,
               Tanto o sol,
Em vez de doirar, prateia,
Touca de alvuras de areia
Os roseirais do arrebol.

Algodoando todo o solo,
Vidrento, o gelo do pólo,
                     Pelo alvor,
De cambraia ou de percale,
Parece, cobrindo o vale,
Um bosque de neve em flor!

Descendo pelas encostas,
As florações superpostas,
                               A cair,
Dão a ilusão de cachoeiras,
Rolando pelas ladeiras,
A espumejar e a fulgir!

E é tão amoroso o cheiro,
O beijo do jasmineiro,
            Que, a tontear,
Tudo enfeitiça, embalsama,
Dando a volúpia, a quem ama,
De respirar o luar!

Neste noivado da terra,
Que perfuma toda a serra,
                    Mesmo a luz,
Tem um candor de azaares,
Das laranjas nos pomares

Que a Arábia feliz produz!
Se a terra, desta maneira,
Carinhosa, prazenteira,
                  Ama assim,
Amemos nós, cantadores,
Com o mesmo ardor com que as flores
Se beijam neste jardim!

Em ti, São Paulo, quem nasça,
Recebe em batismo, a graça
                           Modelar.
E é só por sermos paulistas,
Que temos nós, violonistas,
O dom de saber amar.

                             Martins  Fontes

Enviado por Neiva Pavesi

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