CHOPIN... LISZT... BEETHOVEN...

Vem-me da noite, e como dela oriundo,
Um desempenho magistral ao piano.
Chopin... Liszt... Beethoven.. que fecundo
Ventre de dor — o vosso gênio humano!

Bem vos compreendo. E ao músico e profundo
Rumor do vosso gênio diluviano,
Levais-me soluçando, além do mundo,
Entre os maroiços vivos de outro oceano.

Convosco, sim, tudo se afigura
Imenso, imenso, até minh'alma que erra
Nas subjetivas sombras da loucura...

E a noite, a própria noite se descerra
Para escutar, silenciosa e obscura,
Os soluços sinfônicos da Terra.


NOITE
(IMPRESSÕES DE CHOPIN)

Ei-la em seu torno lúgubre, a infecunda
Deusa da Noite ou do desolamento.
Nada discerne o olhar, o ouvido atento
Na grande solitude que a circunda.

A sua sombra inunda o espaço, inunda
Bum eflúvio de dor, o firmamento,
Como se após o incêndio mais violento
Cobrisse a terra escuridão profunda...

Entretanto, como um pássaro de luto,
A tenebrosa Deusa do Abandono
Estende o seu domínio absoluto

E vai nos céus mais negros que uma furna
Rolando a Terra bêbada de sono
Pela sinistra solidão noturna...

                                                    A. J. PEREIRA DA SILVA

Do livro: "Antologia da Academia - Cadeira 18", organizador Arnaldo Niiskier, Col. Afrânio Peixoto da Academia Brasileira de Letras, ABL, 1999, RJ
Enviado por Arnaldo Niskier

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