A ARTESÃ

Artesã que tece a linha
laça o tempo e seu novelo
– a vida quer te laçar.
ai, que após o ponto alto
do riso, vem a corrente
da dor que quer te enlaçar.

Nessa faina, pouco a pouco
aos olhos te chegam rugas
tornando o rosto tear –
sobre a testa pousa a paina
tornando a cabeça cã.

– Artesã, tuas mantilhas
e essa alvura, são meadas
de igual partida de lã?

E viver? É esse fio
diante das mãos? Ou ofício
que te arremata e arrematas:
jogo de agulha e punhal.

Ah, solidão, alfinete!
Ai, sangue sob o dedal.

                                  Kátia Bento

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