AUTO-RETRATO
Carrego o selo da orfandade
como os judeus carregavam
sua estrela.Segui os bêbados
com seus passos desequilibrados
rua afora.Quintana, Cabral, Drummond,
foram meus namorados
em segredo.Descobri Cecília, seus cantares,
o Mar Absoluto,
seus enredos.Escrevo para sobreviver
aos bens perdidos na mudez
dos espelhos.
FALSA IDENTIDADE
Para Tânia Faillace
Sou o que não sou.
Um passo em falso
e eis-me perdido pássaro
no espaço.Lara de Lemos
Do livro: Dividendos do Tempo, L&PM, POA, 1995