Auto-Análise

Vejo o mármore inerte acordar em meus dedos
com volúpias de rei a pedir a coroa...
Talvez a inspiração cochiche mil segredos
que eu deva denunciar... e a minha pena voa...

Sou destes a querer a sementinha à-toa
germinando em verdor nos ásperos rochedos.
Mas também eu pertenço ao tipo de pessoa
que vive entabolando escabrosos enredos.

Passo as horas colhendo imagens conflitantes
para dar-lhes o brilho em airoso desenho.
Conheço o sacrifício, enorme, bem antes.

"— Um dia eu chego lá!" "— Perspectiva e fé!"
(me ponho a ruminar solilóquios do engenho):
"— Onze vezes no chão, doze vezes em pé!"

                     Miguel Russowsky

Do livro: ... Confeitos de quimera. Ed. Alcance, 2000. POA/RS

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