AUTO-RETRATO

               À Mário Quintana

Eu fiz
um auto-retrato.
Com cores frias
e com pinceladas afiadas,
me pintei com todo maltrato,
com toda tisteza.

Um auo-retrato
quase que fotográfico.
Tão sombrio,
tão real,
como O Retrato
de Dorian Gray
.

Pintei-me
como pintava Iberê:
uma auto-solidão,
uma auto-angústia.

Um palhaço
que nunca sorri para si,
um mambembe da trupe
dos infelizes
na fase azul de Picasso.

Não me pintei
com a orelha mutilada,
como o fez Van Gogh,
mas com o coração retalhado
como nenhum outro artista o fez.

                                 Ivan Santtana

Do livro: À margem de mim, João Scortecci Editora, 1996, SP

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