O leão nosso de cada dia
Para Cássio Marcos Amaral
Hoje, sou exatamente aquilo que tenho:
centavos que não compravam felicidade alguma
uma úlcera metafísica,
que não me acompanhará ao infinito
dezenas de poemas sobre a exaltação do homem
e a felicidade tola dos desvairados.
Hoje, sou tudo que tenho:
um sonho de primavera
amadurecendo o coração dos brutos
um gosto de beijo nunca dado
uma iluminação repentina e irremediável
que me levaria ao céu, se o quisesse.
Hoje, nada além dos meus pertences é o que sou:
uma dor de cabeça debutante
migalhas de pão presas à barba
um projeto de poesia
que me remediará de todo o mal do mundo –
depois de escrito me trairá covardemente
por não saber nada além
do que suas palavras dizem.
Hoje, sou exatamente o que tenho:
mas é nu que espero o amanhã.L. Rafael Nolli