SOU ASSIM

Eu sou tão mineral quanto uma pedra,
e, às vezes, vegetal quanto uma folha.
Nas áreas onde o mal, viçoso, medra,
eu me fecho e me oculto... é livre a escolha.

De humana, mesmo, tenho a forma apenas,
pois dói muito dizer que a espécie humana
é quem me impõe as mil e uma penas
das quais a minha vida não se ufana.

Sou melhor quando sinto-me ametista.
Sou feliz quando creio-me uma rosa.
Sinto-me bem, pois penso que ao artista
cabe apenas a alma vaporosa.

Sou da essência bem mais que do formato.
Sou esquiva e volátil como o éter.
Muitas vezes perguntou: Sou, de fato?
Ou sou somente a ideia em meu suéter?

É assim. Esta mistura incompreensível,
indefinida mesmo... misteriosa...
Da vida transitória e perecível
fica apenas a ideia de uma rosa.

                                    Elisa Barreto

Do livro: Elisa Barreto poesia, Ed da autora, 1999, SP

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