Pela rua

Ando pela rua
E a navalha da exclusão corta a carne da cidade

Ando pela rua
E ouço esgares doloridos em lugar de um sorriso

Ando pela rua
E a miséria nas calçadas cresce com velocidade

Ando pela rua
E a fome abafa o protesto que se torna mais escasso

Ando pela rua
E nos olhares esquecidos já não há mais esperança

Ando pela rua
E a sociedade hipócrita fica cada vez mais nua

Ando pela rua
E o corpo esquálido não tem mais a pureza da criança

Ando pela rua
E a violência sem idade rouba a vida que é minha... e sua

Paro em meio à rua

Não quero mais andar
Não quero mais falar
Nem protestar

Preciso amar ...
 

Onde está a paz?

Todos querem a paz
mas quem de nós a busca?

Todos cantam a paz
mas quem de nós a escuta?

Todos falam sobre a paz
mas quem de nós a conhece?

Se nas escolas estudamos sobre guerras,
se os livros nos falam de guerras,
se na televisão só assistimos a guerras,
se os monumentos nos lembram de guerras,
se até existem aniversários de guerras,

Onde está a paz?

Está ou jaz?

Arrancada do nosso cotidiano
pela força do meu e do seu,
que domina esse mundo insano,
a paz se foi para outros rincões,
deixando sobre nós o breu
das bocas dos canhões

E hoje, quem diria,
ela habita
no bico das cotovias

Escolhidas por serem aves simples,
que vivem com muito pouco
e mesmo assim são felizes

Ah! Mundo faminto e torto...
Escute o chilrear das cotovias,
e aprenda com elas
a se alimentar de alegrias

Pois assim, quem sabe, um dia
a paz deixe de ser utopia

                                                                                       Emmanuel Chácara Sales
 

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