Não chore

Não chore meu pai
Ou, se chorar, chore apenas pela paz
E deixe correr pelo teu rosto a única bandeira branca que podes levantar
Se chorar, chore pelas lembranças da Bagdad alegre e do Iraque do ano em que
nasci.
Passaram-se vinte e oito anos para que o sangue banhasse o chão das mesquitas
e calasse o coração árabe.
Vinte e oito anos desde que aterrissei no mundo.
Iraque
Bagdad
Bassarah
Ironia do destino
Morar na casa que dilacera meu coração
e ser feliz enquanto sinto-me triste
e derrotada por não ter voz.
Silenciar por não ter como ser ouvida.
Então, chore meu pai, chore por você, por mim
e se ainda te restar lágrimas...
Chore pelo amor que se destrói e o Alah Uakba
E que já que é assim, que Alah os proteja
Que faça o coração forte para agüentar tanta tristeza.
E que da dor nasça a fortaleza para a reconstrução
E quem sabe se Bagdadnão será como o Japão?
Mas enquanto isso
se ainda puder
chore meu pai
chore de amor porque Deus escuta
as lágrimas que são justas.
E quem sabe ele não te escuta?

                                                           Carolina Ninô (*)

(*) A autora é brasileira, reside nos Estados Unidos e nasceu em Bagdá
Fonte: "Balaio Porret@" 221, 1 de abril de 2003, RJ
Enviado por Moacy Cirne

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