Estupro dos Sonhos

Tão linda, tão meiga, tão pura
Uma fruta que não estava madura
Uma flor que apenas
começava a desabrochar.
Uma tristeza em seu olhar...
Um anseio, um desejo
A boneca na cabeceira
A vida, apenas uma brincadeira..
Um sonho: crescer para trabalhar
E os irmãos ajudar a criar
Uma explosão de sentimentos...
A fome...
A miséria
Sem pai,
Sem nome...
Mas, um animal feroz
Um homem vil, algoz
Vindo de outro lugar...
Um estrangeiro,
Oferece-lhe tanto dinheiro...
Fazendo-lhe mil promessas
Deixa a menina inquieta,
E ela começa a sonhar...
Com o carro
Com a casa...
Com seu canto...
Com o encanto
De se casar...
E se deixa levar!
Mas o monstro é implacável,
Devora seu corpo impúbere--
Sem clemência!
Deflora a sua alma.
Selvagem!
Roubando-lhe a inocência.
Hoje vive nas ruas,
Leiloando seu corpo,
Nua,
De sentimentos e de sonhos!
Só quer os irmãos sustentar!

Droga de vida

O samba estava nos passos,
Na veia,
Na alma,
No coração daquela menina...
Um desejo ardente a inquietava:
Seria passista,
Seria artista,
Seria feliz!
Queria a purpurina...
Queria brilho
Em seus olhos tristes,
Queria o ritmo quente
Nas batidas do coração,
Queria a dor longe daquelas pistas!
Queria longe a droga maldita
Que, obrigada, passava de mão em mão!
Mas o destino assim não quis
Uma bala traiçoeira,
Atravessou-lhe o peito —
Um tiro certeiro, perfeito!
Levou os sonhos da pobre infeliz!

                                           Benvinda Palma

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