ENCLAUSURADA

(sobre a violência urbana)

Já nem me lembro mais
há quanto tempo estou neste castelo
dentro de uma armadura de aço.

Um dia já fui livre.
Corri por campos de flores.
Banhei-me em águas de chuva.

Ganhei beijos do vento.
Colhi flores nas estradas.
Reguei plantas orvalhadas.

Cantei louvores ao entardecer.
Ao balanço da rede, adormeci.
Com a luz da lua cheia, acordei.

Mas um dia eles vieram.
Em vestes negras e capuzes,
destruíram meu mundo encantado.

Reviraram tudo.
Em seus olhos, ódio e revolta.
Levaram até meus sonhos mais belos.

Nunca mais fui a mesma.
Minh´alma ficou dilacerada,
minhas esperanças se estilhaçaram.

Construí este castelo
com pedras de medos e tristezas
e me isolei de tudo que um dia amei.

Sequer me esqueci
da intransponível ponte levadiça
sobre um rio de jacarés famintos.

                                  Dorcila Garcia

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