ENQUANTO O ESTRÔNCIO CAI
Estranho é estarmos todos sossegados
— o mineral, a planta, o bicho, o homem:
brincam boatos no ar, mas logo somem
sem mutação nos fatos — só nos fados.Diz-que no empíreo os numes aterrados,
sem atinar qual providência tomem,
em sobrehumana angústia se consomem
rolando o azar em seu copo de dados.Enquanto isso, espantosos cogumelos
giganteiam nas nuvens e tão belos
que homem nem deus nenhum pensa impedi-los;só na chuva é que vêm frias do alto
as cinzas do hidrogênio e do cobalto
sobre nós tão alheios e tranquilos.
CABOGRAMA
Com que olhos te vejo,
menino estafeta,
pequeno soldado
crescendo
na linha de frente:
com que olhos te sigo
no envelope cáqui
em que te enviaram
errante
à posta-restante!Geir Campos
Do livro: Tarefa, Civilização Brasileira - Massao Ohno / Editores, 1981, RJ