Derrame (*)
No fundo do Golfo
um poço
um calabouço
de onde jorra
incontrolável
a seiva da terra
que, revoltada, vem
como quem chora
e devora vidas e o verde mar
por onde passa:
golfinhos, tartarugas,
pelicanos e garças
tudo a ser coberto
por lençol de óleo cru
se veste de negro o azul
enquanto peixes e pescadores
se recobrem de medo
ao ver a natureza
em tal tortura:
dói o peito, dá gastura.
No fundo do Golfo
se fez um poço
e gana e avareza desprezando
limites — que amargura —
o tornou em oleosa sepultura.
Ai das inocentes criaturas...
Sandra Lira Rodrigues
(*) em reflexão a catástrofe ecológica no Golfo do México, em abril de 2010