O punhal
A mão que acaricia é aberta;
Mas quando ela se fecha
no cabo de um punhal,
ela é mortal.
Quando meu amigo Gerardo morreu,
abriram seu armário de caça,
e me mandaram escolher
o que eu quisesse.
Escolho cinco assobios de madeira
que imitam os cantos dos pássaros,
e um grande e estreito punhal,
o cabo trabalhado em prata
e pedra preciosa brasileira.
Eu percebi muito tempo depois,
que a lâmina do punhal
era mais pesada que o cabo
e isso permitia
que se eu o largasse de certa altura,
ele caia fincado na madeira
sem esforço.
Tive uma vida ferida,
no seio de uma familia
que não me compreendia.
Às vezes, adolescente,
eu segurava o punhal, pensando:
— Você me tiraria desta vida,
mas pressinto
que me acompanharás
o tempo todo —
companheiro agressor,
mas sustentáculo
onde muitas vezes
o amor nos ameaça
na sombra.
Porém o segredo da Vida
abre asas em nosso Espírito.Clarisse de Oliveira