Abismo em construção

Lá estão, na labuta, os operários.
E não demora o prédio risca o céu,
para abrigar uns tantos milionários
em tudo tão atentos ao que é seu.

Antigos, imutáveis, tais cenários
deixam marcas profundas de um cinzel.
São chagas, cicatrizes. Sinais vários
de que a abolição nunca floresceu.

Em breve haverá câmeras, alarme
e grades protetoras do perigo
na falsa sensação de haver abrigo.

"O mundo pos si só que se desarme"
muitos ali na certa pensarão.
E assim, apaziguados, dormirão.

                         Wanderlino Teixeira Leite Netto

Do livro: Café pingado, Muiraquitã, 2012, Niteroi/RJ

« Voltar