MARGINAL
A vida o arrasta pelas ruas.
Tempo distante, repartido em horas.
Gosto esquecido de comida quente.
Os dedos lembram o trabalho antigo.
A alma repele a mágoa de indigente.
Molambo abandonado em maré baixa,
bicho atirado ao sorvedouro da torrente,
que se debate, reage e luta, corajoso,
mas, afinal vai afundando, indiferente.
FERA DE CIRCO
No espelho de seus olhos resignados,
desfila a colorida multidão.
A distrair o tédio inumerável.Ondula no ar o vozerio imenso.
No lago de seus olhos taciturnos,
dorme, inconsceinte, a nostalgia
das silenciosas solidões nativas.Helana Kolody
Do livro: Viagem no espelho, Editora UFPR, in Trilha Sonora (1666), 5ª 3d. 1999, PR