A PEDRA

No princípio e no fim, no vão do meio,
uma pedra nomeia o meu caminho:
dormi como uma pedra ou alguém veio
deixar os meus lençóis em desalinho?

Quem foi que andou pisando a minha vida
e me deixou assim meio de fora,
oscilando em mim mesmo, na medida
em que nomeio o amor, aqui e agora?

No princípio era a pedra e seu instante
de existência sem nome, realidade
carente de sintaxe e vacilante
no seu jeito de ser pela metade.

No meio, além da pedra, a poesia
dessas coisas sem forma, na ante-sala,
onde nomeio a musa que existia
no chão do nome e no colchão da fala.

No fim, tudo é princípio e o meio é meio
de alguém cavar no pó do pergaminho
um sentido final, talvez um veio
na pedra que nomeia o meu caminho.
                                    


COISAS


Eu sempre me rodeio de coisas,
não porque eu seja o número um,
o círculo perfeito cuja linha
disfarça o anil das aproximaões.

Eu sempre me rodeio de coisas,
porque são elas que me devolvem
à primitiva consciência do mundo.

São elas que me situam no centro
de mim mesmo, na linguagem maior
que não ousa atravessar as lindes
mais fundas do silêncio.

                                 Gilberto Mendonça Teles

Do livro: "A hora aberta", José Olympio/INL, 1986, RJ/DF

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