AS ROSAS

a caetano filgueiras (*)

Rosas que desabrochais,
Como os primeiros amores,
Aos suaves resplendores
            Matinais;

Em vão ostentais, em vão,
A vossa graça suprema;
De pouco vale; é o diadema
            Da ilusão.

Em vão encheis de aroma o ar da tarde;
Em vão abris o seio úmido e fresco
Do sol nascente aos beijos amorosos;
Em vão ornais a fronte à meiga virgem;
Em vão, como penhor de puro afeto,
            Como um elo das almas,
Passais do seio amante ao seio amante;
            Lá bate a hora infausta
Em que é força morrer; as folhas lindas
Perdem o viço da manhã primeira,
            As graças e o perfume.
Rosas que sois então? – Restos perdidos,
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha
Brisa do inverno ou mão indiferente.

Tal é o vosso destino,
Ó filhas da natureza;
Em que vos pese à beleza,
            Pereceis;
Mas, não... Se a mão de um poeta
Vos cultiva agora, ó rosas,
Mais vivas, mais jubilosas,
            Floresceis.

                                        Machado de Assis

Do livro"Falenas", através do site: http://www.machadodeassis.org.br/

_____

(*) O Dr. Caetano Filgueiras trabalha há tempos num livro de que são as rosas o título e o objeto. É um trabalho curioso de erudição e de fantasia; o assunto requer, na verdade, um poeta e um erudito. É a isso que aludem estes últimos versos.   

« Voltar