PORCELANA

Palavra plena, palavra plana
como um lençol de linho
marcado pelas nervuras do carinho.
Ladrilho molhado pelo leite da lua,
ventre liso de uma adolescente
suavemente nua.
A branca solidão de um campo
de Limoges.
Milenar delicadeza.
Música subjacente
em salão de brancos castiçais.
Fuga de Bach
fulgindo entre vitrais.

                   

PAR DELICATESSE

Os espelhos se afeiçoam a nós.
Evitam falar dos nossos olhos cansados
do rosto invadido pelas rugas,
das linhas do corpo destruídas dia a dia.
Nossos espelhos repetem par delicatesse
as suaves mentiras de que precisamos.                         

                                           Nei Leandro de Castro

Do livro: Diário íntimo da palavra, 7Letras, 2000, RJ

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