O VASO PARTIDO

O vaso azul destas verbenas,
Partiu-o um leque que o tocou:
Golpe sutiu, roçou-o apenas
Pois nem um ruído revelou.

Mas a fenda persistente,
Mordendo-o sempre sem sinal,
Fez, firme e imperceptivelmente,
A volta toda do cristal.

A água fugiu calada e fria,
A seiva toda se esgotou;
Ninguém de nada desconfia,
Não toquem, não, que se quebrou.

Assim, a mão de alguém, roçando
Num coração, enche-o de dor,
E ele se vai, calmo, quebrando,
E morre a flor do seu amor;

Embora intacto ao olhar do mundo,
Sente, na sua solidão,
Crescer seu mal, fino e profundo,
Já se quebrou: não toquem, não.

                               Sully Prudhomme
                      
 Trad. Guilherme de Almeida

Do livro: Obras´Primas da Poesia Universal, Introd. seleção e notas bibliográficas de Sérgio Milliet, Livraria Martins Editora, s/d, SP

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