POEMA À MÁQUINA DE MOER CARNE de Wanda Pimentel

O perfil da máquina
tem muito de gótico,
mói por dentro a carne,
por fora é um pórtico
onda a alma da carne
lava seu delito.

Numa cruz geométrica
justapõe-se a máquina:
nem canta nem pensa,
mais que nunca espera
que a mão saturada
lhe dê movimento,
e um corpo de sangue,
de músculo e vento
vai sendo crivado
de dentes secretos,
de ocultas agulhas,
de engrenagens surdas,
e se transformando
em carne moída.

Assim como a vida.

                                  Walmir Ayala

Do livro: Museu de Câmara (Ed. comemorativa dos 30 anos de poesia do autor), bilíngue, versão em espanhol Rosa Chacel, Artes Gráficas Luiz Pérez, S/A, 1986. Madri/Espanha

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