SONETO DO ISQUEIROSe, na pedra, acordo estrelas
com um golpe do polegar,
a chama, só para vê-las,
já se levanta a bailar.Tão indiferente à noite
bruma, chuva, escuridão
(ainda que o vento açoite
guardo-a na concha da mão).E a cada vez que riscar,
pra que enxergue, ou pra que fume,
ou que me aqueça do frio,como um gnomo do ar
baila a pétala de lume
bem na ponta do pavio.
SONETO DA CAIXA DE FÓSFOROS
Minha cápsula de incêndios,
meu cofre de labaredas!
Meu pelotão de alva farda
e altas barretinas pretas:se só num níquel quem vende-os
lhes aquilata o valor,
teus granadeiros da guarda
não se inflamam de pudor!Fiat Lux do meu verso,
símbolo vivo do amor:
qualquer fricção te incendeia,te arranca estrelas de dor,
minha gaveta de chamas
com sementes de calor.
Luiz BacellarDo livro: "Frauta de Barro", Valer, 6ª ed., 2005, Manaus/AM
Enviado por Rogel Samuel