COISA
Chocolates recheados de cereja
Uma noite tranqüila
Meio copo de tequila
A cidade vai longe
Tudo tão perto
Não há o que falar em abraços
Que faltam úmeros capazes
Amanhã o coração estará cansado de hoje
Cansado dessa falta que irrita budistas
Falta de algo que complete o corpo
Que vá além do corpo
Que vá além
Que leve além disso tudo
Que se pode viver, ver, tocar
Trens vazios percorrendo trilhos
Pela obrigação de ir e vir
Sem nunca poderem parar
Quem teve a idéia de ampliar desejos
De evoluir o desespero
Estava obcecado pelo medo
Sacoleja o corpo no vagão
Indo e vindo sem razão
Apenas para não se dizer só
Vai ficando mais só nessa viagem
Que explode sem som
Sem fulgor, sem luz, sem calor
Meio copo de tequila
Uma noite tranqüila
Como se esperasse algo divino
Que só Deus pode socorrer
quando fica o coração vazio
indo e vindo sem razão
esperando uma estação
onde possa se abastecer de esperança
uma certa dose de tristeza
bombons de cereja
nada de milagre
nada de novo
nada de
de úmeros incapazes
constroem-se cidades
Os fazedores de vagões
vão para casa ao apitar da fábrica
sem vontade de chegar ou voltar de onde
por causa dessa coisa sem nome
José Geraldo Moreira