O POSTE

Numa esquina plantado, erma e tristonha,
no solo projetando a sombra esguia,
o poste tem cilêncios de cegonha
que cisma à beira da lagoa fria.

É noite, e seu perfil é de um vigia
que, a perscrutar a escuridão medonha,
com seu olho de vidro espia, espia...
Ninguém percebe, mas o poste sonha.

Ao vir do sol, aos claros regozijos
dos pássaros, feliz, ele equilibra
a estrela da manhã nos braços rijos.

Já não é poste de feição tristonha.
É árvore, e floresce, e esgalha e vibra...
Ninguém percebe, mas o poste sonha.

                                                    Orlando Brito

Do livro: Sonetos, João Scortecci Editora, 1996, SP

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