AZUL
Chapéu azul, vestido azul, de azul bordado,
Azuis o pára-sol e as luvas, Senhorita,
Como um lótus azul por um deus animado,
Passa, toda azul, por mil bocas bendita.
Há um bálsamo azul nesse azul que palpita,
Misticismos de um mundo, há muito e em vão, sonhado,
Azul que a alma da gente a idolatrá-la incita,
Azul claro, azul suave, azul de céu lavado.
Deixa na rua um rastro azul que cega e prende,
Não sei que de anormal, de fantasma e de duende
Que prende os pés ao solo e ao mundo os olhos cerra.
Vendo-a, não se vê mais nada que o azul, tonteia.
Como num sonho azul, logo nos vem à idéia
Um pedaço de céu azul passeando a terra.
Orlando Teixeira
Do livro: "Grandes sonetos de nossa língua", Seleção e organização José Lino Grünewald, Nova Fronteira, RJ, 1987